A propósito das denúncias que têm
vindo a ser expostas por nós, colocamos hoje uma série de questões, às quais
damos resposta, com o objectivo de esclarecer o que podem ser pontos
problemáticos para a maioria das pessoas.
3 – Quais as obras em curso, os
seus objectivos e de que forma podiam ser evitadas?
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3 – Quais as obras em
curso, os seus objectivos e de que forma podiam ser evitadas?
Ao longo dos tempos o Castro de Ossela sofreu
várias obras que afectaram e destruíram informações fundamentais para uma
melhor compreensão e interpretação histórica e cronológica do povoado.
Todas essas obras estão relacionadas com a Capela
de N. Srª do Crasto e a sua romaria, e foram executadas para requalificar o
espaço, tornando-o mais atractivo e aprazível aos seus visitantes.
É com essa justificação que – ao longo dos
séculos – se têm verificado constantes acrescentos e restauros da
infra-estrutura da capela, mas também várias obras realizadas recentemente,
como, por exemplo, abertura mecânica
de um caminho de terra batida e uma terraplanagem
para melhorar a acessibilidade dos visitantes, a construção de um parque de merendas para servir a comunidade local
e combater o isolamento, tal como várias limpezas
de mato, reflorestações e a
construção de um cruzeiro para embelezar o espaço.
Todas essas pequenas obras parcelares de
melhoria da área circundante da capela
ameaçam a preservação e valorização da integridade do Castro de Ossela,
consequentemente colocando em perigo a classificação
de Imóvel de Interesse Público conseguida em 1997.
No passado dia 20 de Março fomos alertados por
uma fonte anónima de um embargo da
Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis a umas obras ilegais no Castro de Ossela.
Preocupados com a situação visitamos o local e
constatamos, um verdadeiro crime
patrimonial, que aliado a um conjunto de outros atentados recentes,
culminou com a nossa vontade alterar o rumo que o nosso concelho leva neste
campo de preservação do património cultural imóvel oliveirense.
Assim,
optamos por recolher todo o tipo testemunhos necessários à concretização de uma
denúncia oficial às autoridades da
tutela e uma comunicação pública intitulada “Destruição de Património
Arqueológico no concelho de Oliveira de Azeméis”.
Desta forma, com base em fontes orais e nas
nossas visitas in loco ao Castro de
Ossela recolhemos as seguintes informações:
-
O promotor da obra é a Comissão de Festas/ fabriqueira local;
-
O objectivo é construir umas casas de banho, um palco e um bar nas imediações
da capela para usufruto nas festas a realizar em Agosto;
- A primeira vala foi
escavada antes do dia 20 de Março de 2013;
- As obras terão sido iniciadas
com o conhecimento da Junta de Freguesia de Ossela e da Câmara Municipal de
Oliveira de Azeméis;
- A Junta e a Câmara
municipal terão participado e disponibilizado alguns meios mecânicos para
abertura da vala de fundação das infra-estruturas;
- Não existiu nenhum
projecto arquitectónico, nem plano de minimização do impacto arqueológico do
local, tal como não terão aprovadas licenças e autorizações oficiais pelos
técnicos da câmara municipal, apesar dos promotores da obra referirem a
legitimidade dos trabalhos;
- Posteriormente à
escavação da primeira vala foi realizado um embargo oficial pelos serviços de
fiscalização da câmara municipal;
- Nos dias 23 e 24 de
Março de 2013 houve um desrespeito ao embargo da Câmara Municipal, pois
testemunhamos pessoas e máquinas no local, verificando ainda um alargamento da
primeira vala e a escavação de uma segunda na zona do parque de merendas;
- Os voluntários que
escavaram as valas e a Comissão de Festas desconheciam o embargo da obra;
- As terras movimentadas
mecanicamente estão depositadas na margem Oeste, sensivelmente a meio do
caminho de terra identificado como Quinta do Crasto em direcção ao lugar de
Baralhas;
- Verificou-se a existência
de um elevado número de material de construção, cerâmica comum, escória e um
fragmento de mó, tal como uma grande dispersão e número de pedras oriundas da
escavação mecânica;
- Numa análise
superficial do corte da vala de fundação constatamos um elevado potencial
estratigráfico da zona de ocupação. Foram ainda identificadas estruturas
cortadas pela vala e um elevado número de matérias arqueológicos dispersos no
corte estratigráfico;
- Nas imediações da
capela aparecem à superfície alinhamentos de pedra seguramente pertencentes a
estruturas do povoado (a superficialidade das estruturas pode estar relacionada
com as escavações do início do séc. XIX);
- Foi recolhido um
testemunho oral de uma pessoa que participou na exumação de ossadas dentro da
capela e presenciou ao seu enterramento de baixo do altar, aquando de obras de
beneficiação, nas quais se levantou o soalho, há já alguns anos. A mesma pessoa
garantiu ainda que a abertura mecânica do caminho de terra de acesso ao topo do
Castro colocou a descoberto uma pia de pedra – actualmente na posse do dono de
um dos terrenos – e muitos materiais cerâmicos;
Na nossa opinião, existiram duas razões directas
que levaram a esta situação de destruição do Castro de Ossela.
A primeira razão é a falta de interesse da
Câmara Municipal Oliveira de Azeméis e da Junta de Freguesia de Ossela por este
património cultural, ou seja, abandono físico e político levaram ao
desconhecimento da Comissão de Festas para o real valor turístico, histórico e
arqueológico.
Em segundo, a falta de visão estratégica. A Junta
de Freguesia poderia ter aconselhado a escolha de outro tipo de equipamentos
que reabilitassem o espaço, isto é, a utilização e aluguer de estruturas
modelares são, por um lado, financeiramente mais viáveis, mais práticas e
fisicamente menos destrutivas. E, por outro lado, ao serem amovíveis não ficam
susceptíveis a vandalismos e não servem de abrigo a bruxarias e outras
actividades menos próprias.
Por último, a falta de fiscalização e de diálogo
com os promotores das obras e os administradores dos terrenos levaram a um
agravamento da destruição do povoado. Talvez com diálogos prévios e
sensibilização dos técnicos de arqueologia municipais (à semelhança do que
acontece nalguns municípios), aos autarcas locais, comissões de festas (nos
casos em que haja capelas nos sítios ou áreas de sensibilidade arqueológica) e
demais proprietários, a situação hoje vivida em Ossela, não se verificasse. No
entanto, se tal tivesse acontecido e, ainda assim, existissem obras, os seus
promotores nunca se poderiam desculpabilizar com o desconhecimento das normas e
importância histórica/arqueológica daqueles terrenos.
Em conclusão, esperamos que este seja o momento de viragem na salvaguarda e
valorização do Castro de Ossela e se arranjem soluções técnicas e políticas para mudar o paradigma do isolamento
do povoado e este passe a servir verdadeiramente como um motor de desenvolvimento económico daquela freguesia e do nosso
concelho.
Fernando Neves (Licenciado em Arqueologia)
Mariana Feijão (Mestre em Arqueologia) Sara Almeida Silva (Mestranda em Arqueologia) (Naturais e residentes no concelho de Oliveira de Azeméis) |
quarta-feira, 27 de março de 2013
Algumas respostas III - Quais as obras em curso, os seus objectivos e de que forma podiam ser evitadas?
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