sábado, 27 de setembro de 2008

Reflexão perdida - Arqueologia

Castanheiro do Vento, 2008
Pois bem.. hoje vamos discutir um problema da nação, ou vai daí.. que talvez não..
O problema da arqueologia perdida..
Vários seriam os pontos a focar.. no entanto, a ideia e concentrarmo-nos apenas na questão do ensino em arqueologia.. um sector que eu diria, claramente perdido e quase sem possível solução ou melhoramento..
Bem.. semi-ignoremos as questões empresariais, autárquicas, dos srs engenheiros, srs ministros, ministérios e políticos, os blogs anónimos e as suspeitas de corrupção..
Assim sendo como anda o ensino arqueológico em Portugal?
Eu diria que mal.. ahahha.. todavia.. veremos..
“José Sócrates vai hoje apresentar mais uma escola do futuro” (Jornal da Tarde, RTP1, 26/09/08)
Pois é, temos crianças que não sabem ler a aprender inglês, temos as mesmas crianças com facilidades e vantagens na aquisição de computadores e internet..
Curioso.. mas isto não se passa no ensino superior! :o
Bem.. entretanto, há dinheiro pra muita coisa, mas o ensino superior não é uma delas..
Se analisarmos o ensino em Portugal, o importante é formar pessoas, não dizer e demonstrar que têm conhecimentos pra possuir tal diploma… Novas Oportunidades… etc, etc.. As estatísticas dizem que somos cultos e que temos cursos e habilitações..
Ora, aí reside a essência do ensino em Portugal – nas estatísticas.
Mas isso daria pano pra mangas.. exames, exames e exames, etc, etc, etc.
Mas voltemos concretamente às universidades.. consta que o orçamento de estado dedicou mais algum dinheiro ao Min da Ciência e Ensino Superior…
Mas também é verdade que já vimos o reitor da UL dizer que pode não ter dinheiro para assegurar o ano lectivo até ao fim..
Enfim..
Focando-nos, agora, no ensino da arqueologia por si só.. Vemos que Minho, Porto, Lisboa, Algarve têm licenciaturas na área.. Tomar e o IPT também possuem tal coisa.. E.. temos ainda.. a Escola profissional de Arqueologia do Marco de Canaveses.. formando então técnicos de arqueologia, conferindo-lhes um grau de habilitações do 12º ano..
Ora, todavia, e agora com o fantástico tratado de Bolonha.. o grau que uma licenciatura confere na carreira arqueológica é o de técnico, e não o de arqueólogo..
Ora.. entre técnicos teóricos e técnicos práticos, o que será mais útil num mercado de trabalho tão confuso como este?
Entretanto, também é bom não esquecer que as propinas pagas por uma licenciatura – cerca de 1000 € por ano, não devem ser bem as mesmas pagas numa esc profissional que confere o 12º ano…
Porantanto… pagar mais, saber teoria mas não prática.. um problema a resolver?
Focando-nos na UP, devemos ter em conta que as infra-estruturas do edificio são insuficientes para este tipo de ensino (desta ciência, e de acordo com Bolonha genuíno..)
Bolonha pressupõe licenciaturas com três anos, facilitando o acesso a mestrado, de dois anos, que confere o grau de arqueólogo (permitindo a direcção de uma escavação) e com propinas consideravelmente superiores…
O que daqui se depreende, a meu ver, é que podemos ser licenciados, em menos tempo, mas.. tendo em conta que isso não serve pra nada.. vamos ser mestres (quem quiser) e acabamos por pagar mais, pra ser o mesmo que os anteriores licenciados…
Mas.. temos mais qualificações: somos mestres.. portanto portugueses cultos, jovens e dinâmicos..
Ora.. um dos problemas ou diria restrições dos mestrados são as vagas.. tendo em conta 40 pra licenciatura (actualmente 35) e apenas 20 para mestrado.. não dá pra todos… mas seriam vagas suficientes, tendo em conta que nem toda a gente se quer meter nisso? Bem.. nunca o saberemos..
Com Bolonha, a Flup considerou que os alunos de veriam ser obrigados a comparecer em pelo menos 75% das aulas… o que levanta novamente severos problemas…
40 alunos numa sala de aula (sabendo que há cursos com número de vagas ainda maior), onde há salas pra tanta gente? Resposta óbvia: não há…
Outro problema que se levanta.. Bolonha no seu ideal perfeito pretendia uma avaliação contínua… e não exames.. orientação tutorial.. E será isso possível com tanta gente? Bem.. não me parece..
Assim sendo, a essência de Bolonha passa a praticar-se apenas no âmbito burocrático e nada mais…
Aparentemente poderiam avançar com uma redução no nº de vagas pra permitir esse tipo de ensino..
Mas.. era mau pra economia.. ora.. – alunos, - proprinas… e depois ninguém assegurava os ordenados dos professores.. e isso era chato..
Portanto, outra opção.. criar + turmas, com – alunos..
Problema:
+ turmas, + salas : não há
+ turmas, + professores, + € : não há
Portanto, fica tudo em água de bacalhau…
Depois, outro problema concreto são os planos de estudo..
Um arqueólogo, tecnicamente, tem que possuir conhecimentos “de tudo um pouco”, na medida em que, num acompanhamento arqueológico, não pode esperar que se localizem apenas objectos de determinada época.. portanto, temos que estar preparados para ver de tudo.. o que implica uma formação que contemple, com algum grau de desenvolvimento, todas as épocas..
1 – métodos de laboratório antes de se saber o que se pode recolher e como se deve fazer.. (começar pelo fim portanto..) e tudo isto fora de um laboratório..
2 – métodos de campo, numa sala de aula.. aí, aprende-se como se escava.. E como se orientar com uma bússola..
3 – possibilidade de se ser arqueólogo sem nunca se ter participado numa escavação..
Isto, porque somos obrigados a ir às aulas.. o que impede, de todo um ensino prático ou parcialmente pratico nesta ciência bela e amarela..
4 – ter alta idade média sem ter história de Roma – o que deixa um docente assustado..
5 – em arqueologia clássica, aprender urbanismo e arquitectura.. (apenas..)
6- professores assustados quando se apercebem que os seus alunos deviam conhecer uma das mais básicas bibliografias sobre arqueologia portuguesa e não a conhecem (porque ninguém lhes falou disso antes..)
7- quando numa série infinita de cadeiras opcionais, os alunos se deparam com inúmeros problemas de opcionais – e aí percebe-se que a designação devia ser “opcionais obrigatórias” ou “opcionais sem grande opção”..

E.. enquanto se passa tudo isto, há comentários do “nunca vão ser arqueólogos ou trabalhar em arqueologia”.. ou “se não sabem latim.. dediquem-se a pré história (em que não se escreve) ou a contemporânea (em que a escrita é igual à vossa)”

E assim vamos vivendo.. e é este o mundo perdido da arqueologia..é este o estado da nação e do ensino desta ciência.. O que haveria ainda mais pra acrescentar aqui.. enfim..

O mundo tá perdido..

4 comentários:

mean_machine disse...

quem fala assim não é gago =P
desanca neles k eles bem merecem
n ha condiçoes...

Jorge Rodrigues disse...

Que bolonhesa estás tu :) tens toda a razão? Vamos partir para uma manif?

Anónimo disse...

nao consigo ler tanta coisa ahahah.
mas um dia q leia faço um comentario decente. ate la fica isto para dizer q sim :D

Anónimo disse...

sara k andas a fazer para estares tão inspirada??
muito bem , nunca tinha lido um texto k exprimi-se tambem a nossa condiçao degradante!!!!
muito bem!!!

parabens!!!!