terça-feira, 30 de abril de 2013

A destruição de Património Arqueológico na Assembleia Municipal de Oliveira de Azeméis



Comunicação efectuada na Assembleia Municipal de 30 de Abril de 2013Assunto: Destruição de património arqueológico no concelho de Oliveira de Azeméis

Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Oliveira de Azeméis,
Exmo.  Sr. Presidente da Câmara Municipal,
Exmos. Srs. Vereados, Deputados e Presidentes de Junta,
Exmos. Srs. dos Órgãos de Comunicação Social,
Senhoras e Senhores,

Muito boa noite.

Como jovens oliveirenses, licenciados em arqueologia, vimos alertar para um conjunto de situações de destruição de património arqueológico do concelho.

Ao longo dos últimos anos, têm sido realizadas várias obras lesivas para o nosso património arqueológico, que condicionam o conhecimento da nossa história e identidade local, reduzindo consequentemente a nossa importância no panorama nacional.

Infelizmente, neste último ano, o número destas situações tem vindo a aumentar, levando-nos a alertar – informal e formalmente – os organismos locais e nacionais com responsabilidades de protecção e salvaguarda do património cultural.

As empreitadas em causa estão maioritariamente ligadas a reflorestações e limpezas de mato; abertura e pavimentação de caminhos; restauro de capelas e igrejas, bem como obras de melhoramento das áreas envolventes.

São obras promovidas por privados e, por vezes, até por entidades públicas em espaços que estão bem identificados no nosso PDM como sítios ou zonas de sensibilidade arqueológica, o que faria supor a existência de um rigoroso licenciamento e uma avaliação dos riscos patrimoniais que as obras teriam para os sítios.

Ao longo do último ano identificamos alguns destes casos, nomeadamente:
·        Outeiro do Castro/Parque da La-Salette, em Oliveira de Azeméis;
·        Monte de São Marcos, em Fajões;
·        Castro de Recarei em S. Martinho da Gândara;
·        Castro de Ossela, em Ossela;
·        Igreja de Ul, em Ul, sendo que apenas esta última não está incluída em PDM, apesar de desconhecermos se está ou não salvaguardada através do “regulamento municipal sobre o património”.

Infelizmente:
ü      A frequência destas acções lesivas para o nosso património, que se perde irremediavelmente, e que certamente ocorrem em maior número do que aquele que temos conhecimento;
ü      O aumento exponencial do número de edifícios históricos abandonados e devolutos a degradarem-se, colocando em risco a segurança pública, em certos casos;
ü      O tratamento demorado e passivo a que têm sido sujeitas as comunicações formais e denúncias oficiais junto da Câmara Municipal;
ü      A ausência de informação oficial que aponte para os relatórios técnicos da câmara ou estudos prévios às obras, que comprovem a legalidade destas obras e estabeleçam as respectivas condicionantes e medidas minimizadoras e compensatórias para o património leva-nos a concluir que estamos perante um grave problema.

Este problema, parece existir no processo de licenciamento de obras, no que toca à protecção, salvaguarda e valorização destes espaços patrimoniais, importantes para todos os oliveirenses e futuras gerações, mas também, com um potencial turístico inegável, se fossem tomadas medidas no sentido de os tornar acessíveis ao público.

Sabemos ainda, pela experiência das nossas intervenções, que a fiscalização e os embargos dessas obras não se têm revelado tão produtivas na busca de soluções, após os incidentes, como seria desejável. Observa-se também um grande distanciamento entre proprietários de terrenos com condicionantes arqueológicas e a Câmara Municipal e uma total falta de comunicação entre as partes, que certamente evitaria muitas destas situações.

O nosso objectivo, ao apresentar hoje aqui estas situações, não passa por apontar o dedo ou encontrar os culpados.
Queremos proteger o património cultural oliveirense, preservar as infra-estruturas que fazem parte da nossa história e do passado do nosso concelho.
Queremos tentar valorizar o pouco que ainda resta e que pode ser útil para explicar como viviam os nossos antepassados neste território, que actualmente se chama Oliveira de Azeméis.
Queremos alertar que, para além da importância histórica destes locais, estes sítios podem ser um verdadeiro motor económico e turístico do nosso concelho, à semelhança do que se passa noutros municípios.

Estamos aqui porque não podemos compactuar deontologicamente, moralmente e eticamente, com os ataques que, a nossa geração, tem sucessivamente feito ao nosso passado, sem que sejam tomadas medidas mínimas de prevenção e de conservação desses sítios históricos, que sobreviveram séculos e séculos sem sofrerem tantos danos como neste curto espaço de tempo actual.

Desta forma, propomos e colocamos à consideração desta Assembleia Municipal e da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis que promovam uma série de acções que, acreditamos, podem ajudar em muito à preservação da nossa memória colectiva e a perpetuar o nome deste concelho nos Annaes da História.

Em primeiro lugar, parece-nos necessário que, em local próprio, talvez uma Comissão, se apurem as responsabilidades dos falhanços de licenciamento destes e outros processos semelhantes e se estabeleça um código de práticas que permita colocar um ponto final a esta série de más práticas, tendo como missão verificar rapidamente se existem falhas de comunicação que possam ser supridas entre os técnicos e divisões da Câmara Municipal.

Em segundo, é da maior importância que a Câmara Municipal identifique e entre em contacto com todos os proprietários dos terrenos localizados em zonas de sensibilidade patrimonial e arqueológica identificadas em PDM com a intenção de sensibilizar os mesmos valor patrimonial e da importância histórica do respectivo local e explicar todos os direitos e deveres legais a que estão sujeitos, impedindo assim que o desconhecimento seja usado como atenuante de acções danosas sobre o nosso património.

Em terceiro, que sejam tomadas medidas, pela Câmara Municipal, a curto prazo que minimizem, estudem e compensem, as zonas já afectadas.

Por último, propomos ainda que seja efectuado um estudo sobre o estado de conservação/degradação das zonas assinaladas em PDM, que possa ser tornado público e debatido, tendo o objectivo de criar e apresentar medidas concretas a aplicar nesses mesmos sítios, face ao seu estado de degradação, de risco e de pressão destrutiva.

Em conclusão, queremos ainda dizer frontalmente a Vossas Excelências que comentários como: “Lá, não existe nada!”, ou “Aquilo é uma lixeira!”, ou ainda ”Aquilo está tudo partido e por isso não presta e não é importante!”, não correspondem à verdade, como Vossas Excelências certamente sabem, cabendo a todos os responsáveis dentro desta sala dizer isso mesmo e explicar que as regras dos licenciamentos foram feitas para serem cumpridas, e que se os sítios foram colocados sob protecção em PDM, ou até, como o Castro de Ossela, estão classificados como Imóvel de Interesse Público, houve uma razão legítima para tal acontecer.

Compete a todas as pessoas dentro desta sala explicar a importância histórica do nosso concelho e implementar todas as medidas de salvaguarda, protecção e valorização dos sítios que possam ser relevantes para o desenvolvimento e prestígio de Oliveira de Azeméis.

Cabe a todos os oliveirenses, com ou sem responsabilidades políticas, com ou sem responsabilidades técnicas ou executivas, dizer: “Basta, de destruir! Vamos preservar e recuperar o nosso património.”
Porque conhecer o nosso passado é tão importante como construir o nosso futuro e porque as actuais e novas gerações de oliveirenses merecem conhecer melhor a história deste território, compete a esta Assembleia Municipal e a este Executivo Camarário ser a primeira linha de defesa da histórica do concelho de Oliveira de Azeméis, porque tudo o que é destruído hoje não é recuperado amanhã.

Se, no caso da construção da barragem em Foz Côa, na década de noventa, se utilizou o slogan “As gravuras não sabem nadar”, para defender um inestimável Património da Humanidade, o que aqui fizemos hoje não foi mais do que dizer que “Os sítios arqueológicos não sabem falar” e, única e exclusivamente por isso, falamos nós aqui por eles.

Fernando Neves
Mariana Feijão
Sara Almeida Silva
www.facebook.com/PatrimonioEmAzemeis

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