sexta-feira, 20 de março de 2009

O que me irrita no cinema português


Isto por aqui está muito parado... :) Até admira. Entre Dezembro e Fevereiro fizemos cerca de 120 posts... Portanto uma média de 40 posts/mês. Temos que voltar a esses tempos.

Moving on... Hoje decidi debruçar-me sobre os inúmeros problemas do CINEMA PORTUGUÊS. Por que razão é que ainda não temos sequer UMA nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro?

Somos dos poucos países da Europa que não tem... Ou vejamos...




A verde escuro estão vencedores do prémio, a verde mais claro os que já foram nomeados para ele. Enfim... Dá para ver os poucos países que ainda não têm nomeações. E porque será?

Não me venham dizer que as condições do nosso cinema e do panorama de actores de Portugal não são boas - tão boas são que a TVI até se orgulha em dizer que produz novelas melhor que a Globo.

Temos portanto a França, a Itália, a Espanha, a Suécia, os Países Baixos, a Dinamarca, a Alemanha, a República Checa, a Suíça, a Hungria, a Rússia, a Áustria, a Bósnia-Herzegovina, a Polónia, a Bélgica, a Noruega, a Grécia, a ex-Jugoslávia (agora Sérvia), a Finlândia, a Islândia, a Geórgia, o Cazaquistão e a Macedónia - isto só falando de países europeus com nomeações.

Portanto... alguém consegue explicar o que se passa de errado com o cinema português? Talvez eu consiga.


As escolhas que são submetidas para consideração da Academia têm sido verdadeiros flops.

Em 2008 mostramos ostensivamente o regionalismo e festividade tipicamente portugueses (Aquele Querido Mês de Agosto), em 2007 submetemo-nos aos franceses e a Manoel de Oliveira (quando não temos filme decente para colocar a consideração da AMPAS mandamos Manoel de Oliveira e um dos seus filmes) com uma história deprimente de vingança por sofrimento passado (Belle Toujours), em 2004 com o ridículo filme de Miguel Barroso que fala de uma jovem que trabalhava num bordel lisboeta e que é introduzida à alta sociedade lisboeta por um senhor de grandes posses mas no entanto nunca deixa de ser perseguida pelo seu passado (O Milagre Segundo Salomé). Ao longo da década continuamos com escolhas inconsequentes como O Delfim de Fernando Lopes em 2002 (ano em que o México foi nomeado pela adaptação de uma obra PORTUGUESA, O Crime do Padre Amaro, numa performance excepcional de Gael García Bernal - que elevou a personagem de Amaro para outro nível - enquanto que o filme mexicano se preocupou com a história o filme português procurou a nudez, o sexo e a depravidão para dar show), Camarate de Luís Filipe Rocha em 2001 (um bom filme para os de cá mas sem interesse para os americanos), Tarde Demais de José Nascimento em 2000 e assim por diante.


Poucos anos têm sido bons para o cinema português. Nesta década, só 3 filmes fogem à regra: 2006 foi um grande ano para os filmes portugueses com aquele emocionado pai - Nuno Lopes - levado ao limite da insensatez com o rapto da sua filha (Alice), 2005 também não foi mau com o filme que tornou João Canijo a cereja no topo do bolo dos realizadores portugueses (entretanto despenhou-se com Corrupção, filme baseado no Eu, Carolina... agradeçam aos deuses por este não ter sido a nossa escolha em 2007), com um filme que fala na prostituição e no tráfico de mulheres durante o Inverno do interior português (Noite Escura). O cinema multilínguas foi palco de mais uma das nossas escolhas em 2003 com O Filme Falado, de Manoel de Oliveira, que era falado em cinco línguas - português, francês e inglês na sua maioria mas também grego e espanhol. John Malkovich, Catherine Deneuve e Leonor Silveira eram os protagonistas desta comédia de mau gosto que não encantou os portugueses - pena a deles porque eu recomendo que vejam este filme. É do melhor que Manoel de Oliveira já fez indubitavelmente.



Temos preferido usar a polémica e a controvérsia da forma mais errada possível.


Corrupção, O Crime do Padre Amaro, Second Life ou Zona J teriam sido excelentes filmes se abandonassem o pretenciosismo que lhes é inerente. O que é que pensamos quando falamos de Corrupção? Em Pinto da Costa. E naquela... Carolina (as reticências estão ali propositadamente para mostrar que é impossível não lhe darmos um nome feio logo ali). E em O Crime do Padre Amaro? Bem, Soraia Chaves nua! E em Second Life, o suposto «filme que toda a gente estava à espera»? Nada. Porque é isso que o filme nos deixa quando saímos. É um puro engano. Que tristeza. E Alice? Pensamos na história em que o filme se baseou na altura ou até mais recentemente pensamos em Madeleine McCain. Enfim. O povo português não foi feito para pensar.



As verdadeiras jóias que temos do cinema português não são preservadas e aproveitadas.


«Alice» é talvez o filme mais depreciado dos últimos tempos - ou talvez mesmo do cinema português inteiro. É comovente, bem feito, bem pensado, bem concebido, bem interpretado e bem editado. Até a banda sonora se adapta de forma melíflua. O que falta? A publicidade que Corrupção e Amaro tiveram a rodos.

Outro filme que me entristece de uma forma é «Amália». Que grande filme. E Sandra Barata, no papel de Amália, é sublime. E o filme foi o mais visto de sempre (toma lá Second Life!) de entre os filmes portugueses e não tinha nenhum dos grandes actores cinematográficos portugueses a brilhar (à la Nicolau Breyner). Quem é que concorda comigo que este é que devia ter sido a nossa escolha para a consideração ao Óscar? E já que não o aproveitaram este ano, que tal para a campanha de 2010? É possível de ser feito. Este filme esteve em cena pelo menos em Janeiro de 2009 e basta que seja visto nos cinemas nos Estados Unidos por uma semana para que possa ser considerado.


Só uma notazinha: «Gone Baby Gone» é um história muito semelhante à de «Alice», é um filme pior que o português e ganhou aclamação crítica e duas nomeações para Óscar. É baseado na história de Maddie. «La Môme» (ou La Vie en Rose) é o filme baseado na mítica cantora Edith Piaf e ganhou o Óscar para Melhor Actriz (Marion Cotillard) numa performance que não é maior e mais interessante que a de Sandra Barata, descontando o deglam inerente à pessoa que interpreta - Amália envelheceu mais ou menos graciosamente, ao contrário de Piaf. Não sei mas acho que isto quer dizer alguma coisa...



Em jeito de conclusão...
Eu acredito que seja possível salvar o cinema português. «Amália» deu um empurrão muito importante com 300.000 espectadores nos cinemas portugueses. É preciso continuar a apoiar o nosso cinema para termos hipótese de se fazerem filmes brilhantes, dignos da maior consideração que existe - o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro.

«A Corte do Norte», como já disse no meu blogue (www.therewillbecinema.blogspot.com), o novo filme de Canijo baseado na obra de Bessa-Luís com o mesmo nome, intriga-me. Parece muito bom. Vamos a ver. Outro que me parece fascinante é «Amor de Perdição» (que eu acredito que vai ser a nossa escolha para consideração ao Óscar - parece-me bem. Será desta? A crítica do Berlinale foi muito boa...)

Uma coisa é certa. O cinema português não pode voltar àquela fase em que só fazia porcaria. Não queremos mais «100 volta», «Second Life» e aí por diante. Que irritação!

2 comentários:

Joana Vaz disse...

"Um amor de perdição"

As apostas são tantas (Festival de Cinema Independente de Buenos Aires,Locarno, São Paulo, Festival Internacional de Cine de Las Palmas de Gran Canaria)...pode ser k seja este ano:)

23 de Abril...

Sara Almeida Silva disse...

hm.. meu caro, permite-me acrescentar que até em séries histórias de produção nacional vês polémica, sexo e companhias.. parece que é isso que o povinho gosta de ver.. a cusquice, verda cor de rosa e soraia chaves sem roupa.. (a vida secreta de Salazar)..
Enfim' venham dias melhores..