quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Diário.. de 15 dias de encontro com o passado..

Não que isto seja útil.. é só uma questão de.. memória..

Aqui ficam os revistos dos 15 dias de escavações, no Complexo Mineiro de Tresminas, Vila Pouca de Aguiar..

Dia 1 – Domingo

Uma longa viagem de autocarro.. Afinal, tudo o que para lá ia era conhecido.. e quem lá estava esperava-nos..

Os insólitos começavam.. depois de umas voltas à vila.. a Casa tinha a porta aberta.. estranho..

Afinal, tudo tinha explicação.. uma carrinha a trabalhar fechada, um vidro para partir.. começavam os ataques de marinites ;)

Depois, "festa" de recepção ao Erasmus.. (uns vêm, outros vão.. e assim, o mundo pula e avança.. e as pessoas também..)


Dia 2 - Segunda-feira

Começamos com algumas notas sobre a estação (ou complexo de sítios..) e começamos a desfazer mitos..

"Nas estações romanas, há material ao pontapé" - falso! Nesta estação, os materiais são escassos.. O aparecimento de um caco, merece de facto uma grande celebração.. (e não será assim que aprendemos a dar valor às coisas "mais pequenas"?)..

No povoado a temperatura aquecia.. mas a abertura de sondagens tinha que ser feita.. por sinal, num sítio com sombrinha ;) Em busca da cisterna..

Mas, se materiais não aparecem, o que não faltava eram visitas.. Primeiro, um dono do terreno que não tinha dado autorização para a sondagem.. Depois, um sr pastor, com os seus adoráveis cães e bois.. E, finalmente, o avec em busca das moedas de ouro, celtas ou romanas, num povoado de pobres, sem casas de mármore..


Dia 3 - Terça-feira

A manhã.. num fosso sinistro.. (de facto, os romanos eram doidos..) e a tarde, provavelmente, fazer cocegas a umas quaisquer pedras sinistras.. num derrube com alinhamento.. ou sem.. ou, ou..


Dia 4 - Quarta-feira

Depois de conspirarmos em torno das teorias da Gripe A (que linha de saúde sinistra, em que um diz mata e o outro esfola), lá voltamos nós ao povoado..

Escavar.. ou melhor, abrir quadrículas.. O comentário apetecível "se precisar de lavrar o seu campo, de batatas contrate uma equipa de fantásticos arqueólogos" ;) Há que fazer pela vida..


Dia 5 - Quinta-feira

Logo de manhã, surge a saltitar uma moedinha ao Rómulo, na bela da quadrícula da Dani (descoberta com direito a música)..

Depois de limpo o derrube, lá o desmontamos por, aparentemente, ser só um derrube.. E o que pode sair? O que pode ficar? O mistério.. da reconstrução do passado..



Dia 6 - Sexta-feira

Trabalhar, só de manhã.. o último dia de trabalho da semana é sempre difícil..

O surgimento da bela sigillata (a adorável cerâmica fina romana) lá no meio do derrube..

Depois, à tarde, visitar as "obras de engenharia".. Cortas (de exploração do ouro durante 200 anos, patrocinadas pelo trabalho dos mineiros romanos); Pinódromo (a bela estrutura ritual, com moedas na fundação, que poderá ser um hipódromo, ou um anfiteatro, mas por tal não ser certo, foi assim apelidada.. em latim, chamar-se ia bordelium, bordelia), não esquecendo as plataformas do aqueduto e finalmente, as galerias, escavadas por todas aquelas montanhas..

Surreal pensar em todo o trabalho que ali foi dispendido..

E não havia perigo, os morcegos não estavam nas galerias.. tinham ido passear ;)


Dia 7 - Sábado

O primeiro dia de descanso, como se de uma grande volta se tratasse..

Visitar o património.. com a ajuda de um apaixonado pelaterra, o Luís, partimos à aventura para o Castelo de Aguiar..

À tarde, assistimos a um dos belos episódios de propaganda política típico desta época.. a inauguração de um centro interpretativo do complexo mineiro de Tresminas..

Bem, nesse contexto, impôs-se outra reflexão.. o papel crucial das autarquias (e do poder local) na arqueologia, no benefício para a população e companhia..

Ora, tipicamente em todas as escavações há um restaurante ou café dum srº Chico.. e nesta também lá estava.. era o nosso local de almoço.. mas nesta tarde, virou local de bailarico.. "Um chapéu aos quadradinhos.." Rica festa ;)


Dia 8 - Domingo

O segundo e último dos dias de descanso..

E sim, efectivamente descanso, comer, dormir e pouco mais ;)

E, como quando há tempo livre, voltam a impor-se as reflexões.. pensar no percurso académico para o próximo ano.. voltamos às emoções, discussões e ilusões dum último ano, que vem a caminho.. e as questões surgem.. o que fazer, o que escolher..

Emanam histórias de professores e faculdades.. e o mundo continua a pular e avançar, certas ou erradas, fazem-se as opções..

O futuro dará notícias, com os fantasmas do Rabudo (opositor do Grande Coelho).. ;)


Dia 9 - Segunda-feira

Deixei o povoado.. parti para o monte..

Monte, pinheiros e estruturas.. Lá fomos cortando árvores, belos pinheirinhos natalícios, que soltavam resinas adoráveis..

O objectivo era encontrar o alinhamento.. e apesar de tudo, lá estava o muro direitinho..


Dia 10 - Terça-feira

O muro continuava a precisar de ser encontrado, e eu também.. e se calhar, cada um de nós..

Talvez seja esse um dos "grandes" factores depressivos duma escavação.. Nós, o passado, a natureza.. e a reflexão..

(A história do lagarto já cá está..)


Dia 11 - Quarta-feira

Foi de facto.. um dia mau..


Dia 12 - Quinta-feira

Mudamos nós outra vez.. recuamos no tempo para um passado mais remoto..

Um Castelo dos Mouros.. outro sítio sinistro que também convida à reflexão..

Como seria a vida por lá? "Casinhas" escavadinhas na rocha e companhia..

Em jeito de despedida, o belo do jantar em casa do Albertino.. ;)


Dia 13 - Sexta-feira

Bem, para recuperar da noite, lá começamos a trabalhar uma hora mais tarde...

Voltamos ao Castro, e típico do último dia, a reflexão voltou em peso..

Antes de regressarmos ao trabalho, depois de almoço, ainda pudemos ver o túnel daquele adorável fosso.. e aquela bela barragem, que mal se distinguia na paisagem..

Mas que grandes engenheiros.. (às tantas, é daí que resulta o meu fascínio :p)

Finalmente, as despedidas.. por dois dias.. porque num ápice, está aí um novo ano.. e com ele, muitos problemas..


O balanço..

Sobretudo, uma escavação diferente.. Não um sítio, mas muitos sítios..

Pessoas "conhecidas" - porque nunca se conhece realmente uma pessoa só por se conviver com ela nalgumas aulas e corredores de faculdade..

Em termos científicos, bastante interessante, sem dúvida.. Sítios diferentes, funções diferentes, objectivos diferentes..

Também foi bonito o cruzamento da arqueologia com a política.. e de facto, nem tudo o que parece, é..

Enfim, enfim..

Se assim for possível, para o ano lá estaremos..


(E não há mais fotos, que estava a ser uma tarefa complicada :p)

*

2 comentários:

daniela disse...

Acho desnecessário essa referência à moeda que o Rómulo encontrou por engano ou lapso na minha quadrícula.

Ainda mais, acho que nem seria uma moeda dado que nunca a vi, presumo então que não passa de uma mentira em que tu és cumplice Sara Manuela, mas ainda vou ter uma conversinha com o Rómulo Filipe!

Anónimo disse...

Eu tenho uma foto que prova a existência da dita moeda...
Se ajudar na discussão... :)
Diana