quinta-feira, 11 de março de 2010

Sobre uma Ordem de Arqueólogos.. e os males da arqueologia!!!

Bem, hoje voltei aos assuntos temíveis da Arqueologia, e tudo isto porque, em virtude de um debate a realizar dia 20/03, se discute por aí a possibilidade e importância de criar uma Ordem de Arqueólogos.. Coisinha “pouco” complexa sobre a qual resolvi tecer algumas considerações, sem esquecer, claro,
que:
- Ainda sou daquelas pessoas que não entrou totalmente no mundo da Arqueologia, mas que gostava de o
fazer..
- Sou apenas uma estudante a desabafar sobre um futuro que parece ser ilusório..

[atrevi-me a colocar aqui a representação do Jorge de uma arqueóloga ;)]

*Ordens não faltam - profissões como médicos, engenheiros, advogados, enfermeiros, psicólogos ... todas elas têm ordens.. E pergunto, há alguma desvantagem em ter uma?!

*Ordens vs Sindicatos - outro dos problemas levantados passava por saber se as duas "organizações" são compatíveis. Ao que parece tanto são compatíveis como possuem objectivos diferentes.
Se um sindicato se pode ocupar das questões salariais, de trabalho, de problemas entre patrões e prestadores de serviços; não é essa a função de uma ordem..

*Precisamos de uma ordem? Parece-me que sim.. Não sei se é ou não a melhor altura para a criar.. Se vem tarde ou se vem cedo.. Mas ela é precisa.. E passo já a explicar o porquê desta opinião..
A arqueologia em Portugal apresenta-se como um empilhado de dúvidas e incertezas.. de buracos na lei.. de desgulamentação..
Parece-me que reside na Ordem o peso social de pressionar as tutelas e ver esclarecidos os problemas de vazios legais..
Para além disso há uma coisa que faz muita comichão.. Quem raio tem legitimidade de dizer: "Você pode ir ali um buraco"; "Ai você tem um curso de Bolonha? Desculpe lá, mas não lhe serve de nada"

Eu percebo que haja algumas reticências nos licenciados fast food de Bolonha (eu tb as tenho), a questão é que a arqueologia não pode de repente dizer que a licenciatura de Bolonha não serve para nada, e mais valia ter ido para um curso no Marco, do que matar a cabeça com problemas interpretativamente rituais!
A questão é que se se reconhece que a formação universitária é insuficiente, alguém, alguma coisa tem que criar complementos a essa formação.. complementos reconhecidos.. Não estou a falar de escavações em que tiramos terra e despejamos baldes.. Alguém tem que pensar se não são precisos estágios profissionais integrados nas formações, ou pós formações ou o raio que os empisque!

Eu não sei se as pessoas que estão actualmente nos grandes cadeirões da arqueologia percebem que não são eternas.. E se têm medo que alguém lhe roube o lugar demasiado cedo, tranquilizem-se, mas formem é pessoas competentes que possam vir a substituir..
Os cursos de Bolonha são uma porcaria, mas é deles que vai sair o futuro arqueólogo..
E sim, há pessoas que não querem saber, e vão fazer arqueologia em qualquer circunstância..

Srs Arqueólogos, acordem' As pessoas que realmente se preocupam com o património, não vão investir numa área que não lhe dá segurança profissional.. (não estou a dizer que há arq que não se preocupam, o objectivo não é esse).

Se a Ordem restringe o acesso à profissão, só leva a que as pessoas realmente se empenhem para lá chegar.. Não é porque sim, não estamos a brincar aos escavadores.. Estamos a trabalhar com um recurso, onde depois de abrirmos, não fechamos da mesma maneira..

E é preciso que a sociedade em geral reconheça isto.. e não são sindicatos que levam a sociedade a perceber a importância da arqueologia.. não são meia dúzia de arqueólogos sozinhos que resolvem isso..

Que se debata uma Ordem, um sindicato.. Mas que se faça alguma coisa em prol da Arqueologia!
*

6 comentários:

Alexandre disse...

Primeiro, um licenciado em arqueologia não é obrigatoriamente um arqueólogo (e vice-versa).

Segundo, o que falta a muitos licenciados em arqueologia não é ordem, é um tirocínio prático com quem percebe da ciência...

Sara Almeida Silva disse...

Caro Alexandre,

Concordo quando afirma que arqueólogo e licenciado em, são coisas diferentes. Mas o objectivo de muitos licenciados passa por chegar ao arqueólogo.. é o tal futuro ilusório que nos aparece agora..

Não disse que a Ordem fazia falta apenas aos licenciados.. Mas sim, disse que faltava formação..

Já agora, obrigada pelo seu comentário :)

daniela disse...

antes de se chegar á ordem ou não, a arqueologia em Portugal ira acabar por falta de arqueologos...

que coisas lindas eu penso :S

Jorge Rodrigues disse...

ADORO ADORO ADORO que tenhas posto o meu desenho :)

Quanto ao teu desabafo, pois que não te sei aconselhar... Mas admiro que ao menos estejas a pensar no problema, há-de se resolver a tua vida.

Arifénix disse...

Na minha opinião o arqueólogo ou o licenciado em arqueologia anda a perder interesse aos olhos de Portugal. Hoje em dia, arqueólogos trabalham, na sua área, com sorte, para ai 4 meses por ano. E são pagos a recibos verdes. Se, com a criação de uma Ordem, esta melhorar a qualidade de vida e defender os interesses dos arqueólogos. Penso então que é vantajoso que seja criada.
Para além disso, espero que com a criação da Ordem, se comece a fazer investigação a sério. Eu não sou da área de História, sou de Gestão, mas sempre adorei História. Assim, na minha cabeça, os arqueólogos não deviam andar á procura de artefactos pequenos, mas sim algo grande, como por exemplo, investigar os restos mortais dos nossos antepassados.

Sara Almeida Silva disse...

Caro Arifénix,

Em primeiro lugar, devo salvaguardar que este texto foi escrito em 2010, não que o panorama se tenha alterado positivamente, mas já se passaram anos.

A arqueologia é sobretudo feita por profissionais liberais, remunerados a recebidos verdes. Há algumas empresas no sector, há alguns funcionários públicos mas o grosso da actividade é feita pelos tais "recibos verdes".

A ordem não lhes colocaria fim, não podia, mas efectivamente poderia regulamentar o sector e as empresas que exercem a sua actividade de forma a garantir uma profissão menos precária.

Os meses que se trabalham em arqueologia, no caso dos recibos verdes, são os necessários aos acompanhamentos de obras ou estudos prévios às mesmas. Se temos menos obras, e de menor envergadura, é consequente um menor volume de trabalho para estes profissionais.

A investigação a sério é feita, com muitos constrangimentos, mas é feita. Veja o caso do que se passa na Herdade dos Perdigões ou o "furor" que corre actualmente à volta do fundeadouro romano descoberto em Lisboa.

Um caco do tamanho de uma unha pode ser muito mais representativo do que uma coisa grande. O tamanho não atribui valor ao material arqueológico e a arqueologia não se serve apenas de cadáveres para os seus trabalhos. São úteis, mas há coisas muito mais úteis para a investigação arqueológica.

Percebo que o "morto" represente um universo mais fascinante, mas não é o todo, nem a parte principal do trabalho e da investigação arqueológica.